Introdução
A Reforma Tributária brasileira segue avançando — a Emenda Constitucional nº 132/2023 já foi regulamentada e, com a Lei Complementar 214/2025, o país começa a implantar o modelo de IVA dual (CBS e IBS), além de introduzir o split payment. Essas mudanças reconfiguram a forma como as empresas pagam impostos e requerem uma reestruturação urgente do fluxo de caixa.
Esse cenário demanda não apenas um controle financeiro mais rigoroso, mas também estratégias para garantir saúde financeira durante a transição. Vamos entender os impactos e como lidar com eles na prática.
1. O que mudou e por que o caixa deve ser preparado
1.1 O que são IBS e CBS?
A reforma substitui ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI por dois novos tributos:
- CBS: contribuições federais
- IBS: tributos estaduais e municipais
O sistema será implementado de forma gradual a partir de 2026, com testes a partir de 2025.
1.2. E o split payment?
A Lei Complementar 214/2025 traz o split payment: parte dos tributos é retida automaticamente no momento do pagamento — sem passar pelo caixa da empresa. Isso reduz a autonomia sobre os recursos líquidos recebidos.
2. Impactos práticos no fluxo de caixa
2.1 Caixa mais apertado
Partindo do modelo anterior, empresas recebiam o valor total da venda e só depois recolhiam impostos. Com o split payment, os tributos são descontados imediatamente — isso pressiona os saldos disponíveis.
2.2 Antecipação de tributos versus recebimentos
Além disso, a cobrança de CBS e IBS pode ocorrer antes que o cliente pague, gerando descompassos entre receita e saída de caixa.
2.3 Receita líquida e controle de créditos
Ainda que a não cumulatividade e o aproveitamento mais amplo de créditos (inclusive sobre energia e serviços) sejam positivos, eles exigem controles contábeis rigorosos para evitar glosas.
3. Custos ocultos da transição
Modernizar sistemas, treinar equipes, adaptar leiautes fiscais e ajustar processos representam custos significativos que impactam o caixa imediatamente.
4. Estratégias práticas para fortalecer o caixa
- Reavaliar projeções de fluxo de caixa
Considere cenários reais incluindo o split payment, alterações nas datas de pagamento e aproveitamento de créditos tributários. - Constituir reserva de caixa robusta
Ideal manter de 3 a 6 meses de despesas fixas como proteção líquida. - Replanejar pagamento e recebimento
Reforce prazos de recebimento e renegocie prazos pagos para manter liquidez em operação. - Automatizar controle de créditos
Sistemas ERP ou contábeis devem rastrear créditos de CBS e IBS e integrá-los ao fluxo de caixa projetado. - Capacitar equipes multidisciplinares
Contabilidade, financeiro, fiscal e TI devem estar alinhados às mudanças. - Monitorar a legislação em tempo real
Acompanhe regulamentações sobre obrigações acessórias, obrigações de pagamento e leiautes fiscais.
5. Exemplos ilustrativos
- Uma empresa de varejo que usava giro de caixa para pagar impostos agora terá que receber valores líquidos, sem financiamento implícito.
- Indústrias com créditos de PIS/Cofins anteriormente não aproveitados terão benefícios com a CBS, reduzindo custo efetivo, desde que consigam computar esses créditos corretamente.
6. Checklist prático de preparação
- Atualizar projeções financeiras incluindo o split payment.
- Criar fundo de reserva para adaptar o caixa.
- Negociar novos prazos com fornecedores e clientes.
- Atualizar sistemas ERP e contábeis com novos leiautes e lógica de split.
- Implementar controles de créditos fiscais (CBS e IBS).
- Realizar treinamentos com as equipes envolvidas.
- Acompanhar atualizações legais e técnicas.
Conclusão
A Reforma Tributária de 2025 leva o fluxo de caixa a um novo patamar de complexidade, especialmente com o advento do split payment e novos tributos. Empresas que se anteciparem e estruturarem seus processos financeiramente estarão mais resilientes, competitivas e preparadas para o futuro.